domingo, 27 de dezembro de 2015

Compreendendo Camões

Nunca compreendi esse soneto de Camões, que até então me pareceu somente divagações poéticas, sob devaneios pueris do vinho inebriante de Portugal, mas foi sob efeito de vinho (não o português) e sentindo uma brasa ardente a queimar-me o peito, que pude compreender de fato o seu real significado e compreendê-lo a fundo. Suas palavras passaram a ser claras como a água do mais límpido riacho e assim pude entender toda aquele misto de sentimentos e sensações, logo transcrevo aqui seus seculares escritos, que se perpetuaram e imortalizaram-no, senhor Luis Vaz de Camões:


Amor é fogo que arde sem se ver,

é ferida que dói e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é solitário andar por entre as gentes;
é nunca contentar-se de contente;
é cuidar que se ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir à quem vence, o vencedor;
é ter com que com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário à si é o mesmo amor?
Luis Vaz de Camões


Muito li e muito aprendi nas aulas de Literatura Portuguesa, mas nunca entendi mais do que as explicações dadas para as provas semestrais... Eis que agora, como um fio que se desenrola, as palavras desse poeta fazem sentido e ganham pleno significado, muito além "daquilo que os olhos podem ver"... agora vejo o quão grande foi o sentimento daquele que traria à humanidade um escrito magnífico, digno de perdurar por cerca de 450 anos, imortalizando-o. Sinto a mesma sensação, o mesmo sentimento de confusão ante sentidos e devaneios amorosos, algo que te queima o peito, te faz sentir saudades, ficar feliz pela existência de tal sentimento, mas triste por vê-lo esvair-se por entre os dedos e que dói, uma dor boa, sem ferimentos... e como tal, renegar esse amor, ter nos amigos, conhecidos, companheiros e camaradas apenas diversão e sorrisos momentâneos, mas que ao fim sentes um vazio, algo não preenchido mesmo em meio à multidão! E mesmo assim, ser feliz pois sabes que lá fora está o seu outro pedaço, aquele que te falta, a sua metade, o que te falta pra te completar e cuidas, por perderes,mas cuidas. 

E sendo assim, continuas preso ao que devias estar livre, servindo com lealdade à quem te venceu as forças e te deixou. Mas como podes, por seu bem e bem alheio haver somente amizade, onde outrora houve amor?
Ainda te amo!
Com carinho, Souza!